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Fundação Nadir Afonso

NADIR AFONSO - laurafonso@sapo.pt

Fundação Nadir Afonso

NADIR AFONSO - laurafonso@sapo.pt

21
Abr11

Da Intuição Artística ao Raciocínio Estético

Laura Afonso

 

 

 

 

Texto extraído de «Da Intuição Artística ao Raciocínio Estético»

 

Sempre pensei, desde que procuro criar de minhas próprias mãos, que existem energias nas leis da Natureza; mas não se trata, dessas forças sobrenaturais de que nos falam os estetas — como se fossemos tocados pela magia das coisas — trata-se, de uma motilidade natural incriável e inevitável. A lei é uma entidade auto-energética porque não há causa que a possa gerar nem causa que a possa aniquilar[1].

E como creio que essas normas existem na obra realizada pelo Homem, igualmente sinto que elas existem no Universo. Indiferente à indiferença que as minhas suposições simplistas possam provocar, permito-me persistir; a lei, tal como eu a sinto, na sua entidade íntegra, não rege de fora nem do alto; age como operador consubstancial do Universo; e muitas das suas regras não são, tão pouco, nossas desconhecidas: o círculo inscrito no quadrado é igual à metade do círculo circunscrito. E esta simples correlação é, em si, tanto antes como depois do seu encontro com o homem, uma fonte de energia. Poderiam nunca existir concretamente, círculos, quadrados ou triângulos equiláteros mas os princípios que os regem nenhuma Força ou Ser superior os poderia destruir; eles encerram essa natureza peculiar que não é originada nem originária porque no seio do cosmos não há origens; nem tão pouco, haveria necessidade de preexistir o Universo para existirem as leis e a sua energia imanente que, suporte de toda a força natural emerge do Nada; neste mesmo instante cósmico gera-se o efeito sem possuir a causa e o Ser universal existe sem ponto de partida, posto que não há ponto de partida onde apenas presidem as entidades atemporais, a que chamamos leis.

A superfície esférica é quatro vezes maior do que a superfície circular de igual raio; e no triângulo rectângulo, o quadrado inscrito na hipotenusa é igual à soma dos quadrados inscritos nos catetos. Ainda que jamais tivessem existido estas figuras geométricas ou alguém para concebe-las, a lei seria sempre auto-existente. De quem depende ou quem poderia suspender tal precisão matemática? A esta interrogação ficou continuamente suspenso o meu pensamento e já na minha ideia de adolescente, nenhuma outra realidade me pareceu tão primordial como a lei que imponderável, tudo rege[2].

Na natureza, quando sobre ela mantemos um conceito materialista, o processo evolutivo da criação assevera-se orientado por essas normas físicas, geométricas, matemáticas que o cérebro do homem — o mais alto nível de desenvolvimento da matéria — pode reflectir e reproduzir.

Assim se justifica que as obras de criação humana — as artes e as ciências — sejam regidas por princípios naturais… Mas esses princípios regem apenas; eles não agem? A Geometria do Universo de que nos falam os cosmólogos não será a mesma que o artista encontra na sua obra? Se as leis preexistem latentes no cosmos qual será a sua relação com todo esse mecanismo que o anima? A meu ver, semelhantes estudos filosóficos antes de se afirmarem nomeadamente na estética, deveriam definir a sua resposta a essa pergunta.

 
Nadir Afonso
 

© Nadir Afonso




[1] As implicações filosóficas do nosso conceito apriorístico das leis, a sua oposição a Hegel e a Marx, o reconhecimento, com Engels, de qualidades evolutivas e leis imutáveis, encontram-se desenvolvidas nas últimas páginas do presente estudo.

[2] Ver «Universo e o Pensamento», pag, 127-138, Livros Horizonte.

 

17
Abr11

As Artes - Erradas Crenças e Falsas Críticas. The Arts - Erroneous Beliefs and False Criticisms

Laura Afonso

 

 

 

 

Texto extraído do livro «As Artes - Erradas Crenças e Falsas Críticas»

© Nadir Afonso

 

 

Ora, todo o conhecimento, (nomeadamente nas Artes), começa por uma observação sensorial e a sua ambição consiste em encontrar a lei normal (nomeadamente de expressão matemática) que o fundamente e justifique. A partir de tal objectivo, torna-se necessário afastar, essa oposição filosófica, intransigente a que assistimos nas Ciências da Natureza, entre o sujeito prático defensor da sensação e o sujeito teórico, defensor da razão.

Para compreendermos e mais facilmente evitar semelhantes intransigências, ouçamos uns e outros.

Em primeiro lugar os sensistas afirmam: «a observação pura, sem mácula» escreve Francis Bacon (1561-1626) «é boa, e a observação pura não pode errar; a especulação e as teorias são más, e constituem a causa de todo o erro. Mais especificamente, fazem-nos ler mal o Livro da Natureza — ou seja, interpretar mal as nossas observações»[1]. «Bacon, o filósofo da ciência» afirma Karl Popper (1902) «era, muito coerentemente, inimigo da hipótese de Copérnico. Não teorizem, disse ele, abram os vossos olhos e observem sem preconceitos e não poderão duvidar que o Sol se move e a Terra está parada»[2].

 Ouçamos agora a tese contrária «Nunca serei capaz de expressar com veemência suficiente» escreveu Galileu Galilei (1564-1642) «a minha admiração pela grandeza de espírito destes homens que conceberam esta hipótese [heliocêntrica] e afirmaram ser verdadeira. Em oposição feroz à prova dos seus próprios sentidos e por pura força do intelecto, preferiram o que lhes ditava a razão ao que a experiência dos sentidos simplesmente lhes mostrava… repito, não existem limites para o meu espanto, quando reflicto no modo como Aristarco e Copérnico foram capazes de permitir que a razão conquistasse os sentidos, e desafiando os sentidos fazer da razão a senhora da sua crença»[3]. «Tal é o testemunho de Galileu quanto ao modo como as teorias científicas ousadas e puramente especulativas nos podem libertar dos nossos preconceitos. Bacon pelo contrário, defendia que estas novas teorias eram preconceitos especulativos, que apenas o abandono [da teoria] nos pode ajudar a libertar-nos de preconceitos, e que o pensamento [teórico] nunca tal pode conseguir»[4]. «O dogma anti-teórico de Bacon» […] «a ideia de que podemos expurgar à vontade as nossas mentes de preconceitos e ver-nos assim livres de todas as ideias ou teorias preconcebidas, preparatórias e anteriores à descoberta científica, é ingénua e errada»[5].

Como vemos, para uns é a observação prática que cria problemas, erros e preconceitos, para outros é o pensamento teórico. Para uns são os sentidos que nos desorientam, para outros são as especulações de intelecto…

Ora o facto de privilegiarmos quer a observação prática quer o pensamento teórico não deve ser encarado como uma grandeza de espírito do sujeito, mas como um defeito e uma limitação.

 
 

Now, all knowledge (namely in art) begins with a sensorial observation and its ambition lies in finding the nor­mal law (namely that of mathematical expression) to justify and confirm it.

From that objective, it is neces­sary to remove the intransigent philo­sophical opposition which we note in natural science, between the practical subject that defends sensation and the theoretical subject that defends reason.

To understand this and more easily avoid similar intransigencies let us hear both sides of the issue.

In the first place sensists state: «pure observation without blemish», writes Francis Bacon (1561-1626) «is good, and pure observation cannot go wrong; speculation and theories are bad and constitute the cause of all error. More specifically, they cause us to mis­read the Book of Nature - in other words, to misinterpret our observa­tions»[1]. «Bacon, the scientific philoso­pher», says Popper (1902) «was, most coherently, an enemy of Copernicus' s theory. Do not theorise, he said, open  your eyes and obsen'e without prejudice and you will not doubt that the Sun moves and the Earth is stationary»[2].

And now for the opposing thesis: «I will never be able to express with sufficient vehemence», said Galileo Galilei (1564-1642) «my admiration for the greatness of the spirit of these men who conceived this (heliocentric) hypothesis and stated that it was true. 1n strong opposition to the evidence of their very feelings and by pure force of their intellect they preferred what reason dictated to the experience simply shown them by their senses ... I repeat, there are no limits to my amazement, when I consider how Aristarchus and Copernicus allowed reason to overcome senses and challenged feelings to make reason the lady of their beliefs»[3]. «Such is Galileo's testimony as to how daring and purely speculative scientific theories will free us of our prejudices. Bacon, on the other hand, defended that these new theories were speculative prejudices, and that only by setting [theory] aside can help free us of prejudices and that [theoretical] thought can never achieve this»[4]. «Bacon' s anti-theoretical dogma» [ ... ] «the idea that we can freely expurga te our minds of pre-judice and so be free of all preconceived ideas or theories, up to and before scientific discovery, is naive and wrong»[5].

As we have seen, some consider that it is practical observation that creates problems, errors and prejudices, whilst others believe it is theoretical thought.



[1] According to a quotation by Karl Popper. O Mito do Contexto, pp 122.

[2] Karl Popper, O Mito do Contexto, pp 122.

[3] Idem.

[4] Idem.

[5] Idem.

 

 
 

[1]  Segundo citação de Karl Popper. O Mito do Contexto, pag. 112.

[2] Karl Popper, O Mito do Contexto, pag. 112.

[3]  Karl Popper. O Mito do Contexto, pag. 112.

 

 

[4]  Karl Popper, O Mito do Contexto, pag. 112.

[5] Karl Popper, O Mito do Contexto, pag. 113.

 

 

14
Abr11

Princesas

Laura Afonso

© Nadir Afonso

 

 

 

«E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.»

 

Luís de Camões

 

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