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Já arrancaram as obras de construção do “Centro de Artes Nadir Afonso”, um espaço que perpetuará a ligação do Mestre Nadir Afonso, um dos maiores expoentes da pintura contemporânea portuguesa, ao Concelho de Boticas, de onde era natural a sua mãe (mais propriamente da aldeia de Sapelos), e que permitirá elevar a oferta cultural de Boticas, colmatando a ausência de um espaço cultural condigno e constituindo uma importantíssima mais-valia para o Concelho, para a região do Alto Tâmega e até para o norte do país, assumindo-se ainda como um projecto inovador que atrairá público nacional e estrangeiro, contribuindo para a criação de novas dinâmicas e maior visibilidade de Boticas.
O “Centro de Artes Nadir Afonso” resultará da construção de um edifício de raíz, cujo projecto foi elaborado pelo gabinete de arquitectura “Louise Braverman, Architect, P.C.”, com sede em New York, USA, e pelo gabinete de arquitectura “PPA Arquitectos”, com sede em Rio de Mouro, de acordo com as linhas traçadas pela Fundação Nadir Afonso, com quem o Município de Boticas assinou um protocolo para a realização desta obra.
O investimento na construção do “Centro de Artes Nadir Afonso” será de cerca de 2,5 milhões de euros.
Este espaço irá ter cerca de 80 obras do artista disponíveis em exposição permanente, albergando ainda exposições de pintura ou de outras obras de arte com relevo nacional, uma biblioteca relacionada com temáticas ligadas à pintura e uma escola de pintura. Ao mesmo tempo, o Centro de Artes terá também por função o lançamento de publicações editoriais promovidas pela Fundação ou pelo Município, a realização de colóquios, seminários e outras acções de idêntica natureza, para além da promoção de outras actividades.
Numa recente visita a casa do Pintor, em Cascais, o presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Campos, teve oportunidade de informar Nadir Afonso sobre o começo das obras do Centro de Artes, o que o deixou muito satisfeito, até porque, como o próprio confessou, deposita “uma grande expectativa relativamente ao Centro de Artes, esperando que este espaço possa vir a contribuir decisivamente para o aumento e a consolidação da oferta cultural em toda a região”.
De resto, Nadir Afonso prometeu visitar “in loco” as obras de construção do Centro de Artes, o que deverá acontecer já no decorrer do próximo mês de Agosto, altura em que terá presente uma exposição do edifício da Câmara Municipal de Boticas, o que acontecerá pelo terceiro ano consecutivo.
Livraria Babel
de 6 de Julho a 14 de Agosto
Rua da Misericórdia, 68
Aberta de segunda a sábado das 10h às 20h
Curadoria de Miguel Matos
Com o apoio Manufactura de Tapeçarias de Portalegre
Inauguração dia 6 de Julho às 19h
Nadir, multiplicado
“Por princípio a obra de arte sempre foi reprodutível”, afirmava Walter Benjamin logo na primeira linha do seu texto A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica1. Nadir Afonso, ao longo da sua carreira como pintor, tem recorrido consistentemente às técnicas gráficas para aumentar o poder de exposição das suas obras. A serigrafia e a tapeçaria são práticas constantes, que utiliza recorrendo a técnicos seleccionados e acompanhando todo o processo. Com estas técnicas, consegue uma “democratização” e difusão das imagens que cria, para além das transformações plásticas e de escala que cada uma delas implica.
Para Nadir Afonso, a forma, a geometria e a harmonia de composição são o centro fulcral da obra de arte. O suporte em que essas realidades plásticas nos aparecem à vista é considerado por si como um elemento secundário. Aliás, refira-se que quase todas as suas telas não são telas na sua origem. Tudo começa com um estudo feito a caneta num minúsculo rectângulo de papel, onde o essencial de uma obra sua se revela. Após isso, o artista desenvolve o esboço num segundo momento, normalmente utilizando o guache. Passando a fase do desenho a caneta, o guache é por si tão trabalhado que ganha estatuto de obra independente. Nadir pinta de novo a ideia inicial, mas em formato maior, amplia e desenvolvendo o primeiro desenho. Só depois disto parte para a terceira fase, em tela, aplicando a composição e as cores já pensadas e reflectidas nos dois primeiros momentos. A tela passa a ser uma reprodução ampliada do guache. Tendo em conta estas fases de reprodução/adição/ampliação, torna-se dificil determinar com clareza o que é afinal a obra primeira e única. A tela é apenas o passo final, a estabilização do processo.
“Na sua esquemática nudez, a pintura, como toda a obra de criação, obedece às leis da natureza universal pressentidas através duma percepção sensível”2 - com esta frase, Nadir Aonso abre uma janela para começarmos a entender a sua visão acerca da criação artística. Uma obra sua é uma criação da intuição, manifestada visualmente. Neste contexto, “tal como o tema, a técnica que emprego numa obra é coisa secundária. As leis da matemática é que são essenciais e estão sempre lá”, diz com convicção. Cada obra tem a sua lei natural e esta aparece independentemente do seu suporte. As serigrafias e a tapeçaria apresentadas nesta exposição representam, de forma abstractizante, cidades. Mas para o artista, o tema é apenas pretexto para a composição das formas e linhas. A perfeição, a evocação e a originalidade revelam-se em elementos geométricos e são realçadas nas suas relações matemáticas.
Nadir Afonso não cria obras em específico para serigrafia ou tapeçaria. Todas elas são reproduções em diferente escala e técnica. No entanto, na sua opinião, a reprodução em múltiplos não desvaloriza em nada a obra original e contém em si os elementos plásticos intactos, que permitem ao observador obter a experiência estética. A questão da divergência original/reprodução não lhe interessa, pois o âmago da criação situa-se na imagem e na matemática nela contida, elementos que transitam com a reprodução. Com a serigrafia e a tapeçaria, o objectivo de Nadir Afonso é divulgar a sua obra, fazê-la chegar a mais pessoas, torná-la cada vez mais universal, como o espírito que as habita. O artista conclui de forma esclarecedora: “Tenho prazer em realizar uma obra, mas quando sinto que a obra se transmite, dá-me muito mais prazer. Se uma obra estiver fechada à comunicação é uma tristeza”.
Miguel Matos
1Benjamin, Walter. Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, p.75. Relógio d'Água, Lisboa, 1992.
2Afonso, Nadir. O Sentido da Arte, p.9. Livros Horizonte, Lisboa, 1999.
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Boa noite, não existem serigrafias da pintura dest...
Boa tarde! Escrevo a partir de Havana. Sou um gran...
Não existe
Boa noite. Existe serigrafia desta obra? Se fosse ...
Gosto muito de Nadir Afonso, disruptivo para a épo...