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Fundação Nadir Afonso

NADIR AFONSO - laurafonso@sapo.pt

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22
Dez14

Belém

Laura Afonso

Judia de Tomás Ribeiro

(poesia que Nadir Afonso muitas vezes recitava)

 

Corria branda a noite; o Tejo era sereno;

A riba silenciosa, a viração subtil;

A lua em pleno azul, erguia o rosto ameno;

No céu, inteira paz; na terra, pleno Abril.

 

Tardo rumor longínquo; airosa barca ao largo,

Bordava áureo listão do Tejo ao manto azul;

Cedia a natureza ao celestial letargo;

Traziam meigos sons as virações do Sul.

 

Oh! Noites de Lisboa! Ó noites de poesia!

Auras cheias de aromas! Esplêndido luar!

Vastos jardins em flor! Suavíssimas harmonias!

Transparente, profundo, infindo, o céu e o mar…

 

(...)

 

Corria branda a noite; imersa em funda mágoa;

Fui sentar-me triste e só no meu jardim:

Ouvi um canto ameno! E um barco ao lume d’água

Vogava brandamente. A voz dizia assim:

 

“Dorme! E eu velo sedutora imagem,

Grata miragem que no ermo vi:

Dorme, impossível que encontrei na vida!

Dorme, querida, que eu descanto aqui!

 

Dorme! Eu descanto a calentar teus sonhos,

Virgens, risonhos que te vêm dos céus! Dorme!

E não vejas o martírio, as mágoas,

Que eu digo às águas e não conto a Deus!

 

(...)

 

Porque há-de o lume de teus olhos belos,

Mostrar-me anelos de infinito ardor?

Porque esta chama a consumir-me o seio?

Deus, de permei, nos maldiz o amor!…

 

Peito! Meu peito, porque anseias tanto?

Pranto! Meu pranto, basta já, não mais!…

É sina, é sina! Remador voltemos;

Não a acordemos… porque meus ais?…

 

Dorme, que eu velo, sedutora imagem,

Grata miragem que no ermo vi;

Dorme – impossível que encontrei na vida!

Dorme querida, que eu não volto aqui…

 

Sumiu-se a barca e eu chorava

Debruçada sobre o Tejo;

A aragem trouxe-me um beijo

Que nos meus lábios tomei!…

Ergui-me cheia de afecto;

Vi cintilar ainda a esteira

Da barquinha feiticeira,

E disse às auras: – Correi!

 

Trazei-mo! Quero contar-lhe

O fundo tormento enorme

Da judia, que não dorme

A penar de ignoto amor! Voai!

Trazei-me o seu nome,

O seu retrato, o seu canto,

Uma baga do seu pranto …

Que venha! O meu trovador!…

 

Ai! Não! Que há na minha história

Que suavize a tristeza?

Nasci na triste Veneza,

Onde perdi minha mãe;

Acalentaram-me lágrimas

Que derramava a saudade,

Na desgraçada cidade

Que não tem pátria, também.

 

Cresci; meu Pai, uma noite,

Disse-me: – É já tempo agora;

Ergue-te ao romper d’aurora

Vamos partir amanhã;

Vamos ver as terras santas,

Sepulcros de teus monarcas,

A pátria dos patriarcas,

Desde o Egipto a Canaan…

 

Fui… corri o mapa imenso

Das montanhas da Judeia;

Ai! Pátria da raça hebreia!

Ai! Desditosa Sião!

Que extensos montes sem relva!

Que paragens sem conforto!

Onde se estende o Mar-Morto

E onde serpeia o Jordão.

(...)

 

 

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© Nadir Afonso

 

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