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Abr07
Espacillimité animado de movimento
Laura Afonso
- (c) Nadir Afonso
Nadir Afonso junto de um Espacillimité no Salon des Realités Nouvelles, em Paris em 1958
Espacillimité: Um espaço dedicado à Arte.
O que é um Espacillimité?
Espacillimité é um termo criado por Nadir Afonso nos anos 50 que definiam certos trabalhos desenvolvidos na procura da Arte Cinética.
Nadir escreveu:
Normalmente, a primeira intenção artística do homem é a de exprimir aquilo a que chamamos qualidade de evocação, representando ou sugerindo os variados visíveis da natureza. Depois, num desígnio mais evoluído, ele procura já, não expressar a natureza, mas a perfeição da natureza; da procura da primeira, ele passa à procura mais subtil desta segunda qual idade; observando não o objecto, mas as condições apriorísticas que fundam a sua existência, o homem apreende e concebe a perfeição. E é este longo trabalho que, por outro lado, lhe desenvolve a percepção das formas exactas e estáveis da geometria e o conduzem à procura desta terceira e única qual idade universal e omnitemporal: a harmonia. Da representação do objecto físico – rosto, árvore, animal – à representação do objecto geométrico – círculo, triângulo, quadrado, hesitante, milenário e as formas solicitadas, comprometidas, durante séculos por estes dois pólos: o físico e o geométrico.
Este percurso secular não termina no entanto, nas formas elementares da geometria: ele prossegue nas formas elementares animadas de movimento; na chamada “arte cinética”. A cinética, tal qual nós a concebemos, é a preocupação de articular a forma do espaço ao ritmo do tempo. É um processo de síntese que tem os seus precursores na arte “optica" ou “op" e em certas composições 2animadas" e esculturas "mobiles", se bem que nestas tentativas de estruturação a expressão geométrica e a expressão rítmica colidem mais do que se fundem. As procuras cinéticas deverão ser etapas orientadas para novas leis de unidade. A evolução da arte foi dirigida, até aos nossos dias, no sentido das harmonias estáticas das formas; isto não quer dizer que não poderá empreender uma orientação dinâmica - no verdadeiro sentido da palavra - integrando as leis rítmicas do tempo, ensaiando articular as harmonias espaciais nas harmonias temporais, isto é, tentando animar, mediante um processo técnico cinematográfico, as composições de arte plástica: não teríamos assim unicamente uma imagem, mas uma sucessão de imagens regidas por leis rítmico-geométricas. A verdadeira arte cinética é esta tentativa. Toda a obra cinética cujo movimento das formas é metrisado por uma sensibilidade desenvolvida neste sentido, isto é, por uma sensibilidade geométrica conjugada a uma sensibilidade rítmica, parece-nos artisticamente válida. Enquanto o movimento permanecer arbitrário (em certos ensaios cinéticos as formas deslocam-se ao acaso ou segundo o gosto dos espectadores), nós estaremos em face de manifestações originais sem relação com a realidade específica da arte.
Por volta de 1950, uma primeira tentativa de promover uma Arte Cinética foi diligenciada por um grupo de artistas ligados à Galeria Denise René. Os problemas técnicos suscitados e a oposição dos conceitos pessoais então manifestados levou o movimento colectivo a um ponto morto; cada qual entendeu vencer ou melhor, contornar as dificuldades à sua maneira.
As composições "Espacillimité" nasceram desse isolamento sequente. Trata-se sobretudo aqui, de respeitar as leis dos espaços e dos ritmos matemáticos. O quadro cinético "Espacillimité" foi nesse caminho o nosso primeiro trabalho.
Não escondemos o "impasse" em que os obstáculos colocam a execução prática duma obra verdadeiramente cinética a nosso ver a noção rítmica do movimento não pode ser atingida senão pela "sugestão" do movimento, e a "sugestão” técnica do movimento não pode ser dada senão pela cinematografia - nada menos de dezasseis imagens controladas por segundo. Deste modo, a hist6ria da arte cinética tem sido acima, de tudo, a história duma procura material e prática capaz de solucionar um problema que é antes e sobretudo de carácter técnico.
Os quadros “Espacillimité" reunidos, revelam mais uma "intenção” (apenas concretizada no quadro cinético acima reproduzido) do que uma "solução" ou mesmo uma concepção nossa do que possa ser uma “arte de vanguarda"; não deixam contudo de possuir, nesse sentido, uma definição pr6pria e uma significação exemplar.
Nadir Afonso
- estraído do Catalogo de Nadir Afonso «Espacillimité»