O Sentido da Arte
Texto extraido de «O Sentido da Arte» de Nadir Afonso
Então, dá-se este fenómeno estranho que nunca foi pressentido pelos estetas: o criador procura a perfeição, mas procura também intuitivamente ultrapassar o declínio da sua obra. Superior a este esforço ávido de perfeição, uma tensão suprema é feita pelo homem: a força que visa estabelecer a sua obra no absoluto, subtraída às leis da evolução. Será o criador capaz de vencer esta contradição? Como pode o homem fixar aquilo que, pela natureza evolutiva, é perpetuamente ultrapassado? Já Karl Marx, como o fizemos notar no nosso trabalho anterior — M.C.A. — se deparou com essa antinomia: “As obras de arte” escreve ele, “conservam um valor permanente, um encanto duradouro que se mantém para além das civilizações que a viram nascer”, e acrescenta ainda: “... a dificuldade reside em compreender como podem elas [as artes gregas] ainda hoje ser fonte de prazer estético...”[1]. E embora Marx não nos dê a resposta capaz de esclarecer este mistério, cabe-lhe o mérito incontestável de ter levantado semelhante questão.
© Nadir Afonso