O Tempo Não Existe
«A obra de arte possui uma propriedade particular, única, original, acessível a uma intuição própria dos seres hipersensíveis (...). Para compreender tal particularidade devemos começar por distingui-la dos restantes factores que observamos na natureza: desde a infância habituamo-nos, sobretudo, a apreciar a utilidade das coisas e a sentir emoção em face da função a que o objecto se destina. Assim os atributos qualitativos próprios da função diferem dos atributos quantitativos da forma; enquanto estes factores da forma são os mais difíceis de apreender e geram na sua morfometria a obra de arte, aqueles factores da função alteram-se no espaço e no movimento.
Quando o esteta julga que o artista procura na sua obra as qualidades próprias da função — perfeição, originalidade, evocação… — ignora que não são essas qualidades, mas sim, as quantidades exactas, matemáticas que determinam a essência própria da arte universal.
Ainda que elaborada de forma inconsciente, é a geometria que realça o objecto, mesmo se o artista julga que o realce é o reflexo da sua alma.
E o facto de normalmente, a obra de arte não representar claramente formas geométricas, não quer dizer que a geometria não esteja lá, posto que a matemática intuitiva não é apenas a geometria dos geómetras.»
Nadir Afonso