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Fundação Nadir Afonso

NADIR AFONSO - laurafonso@sapo.pt

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06
Nov13

Panificadora de Vila Real

Laura Afonso

 Parabéns à arquiteta Anabela Quelhas, professora do Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus, pelo seu trabalho em defesa do património arquitéctónico.

 

Porquê preservar?


Porquê preservar?
 
Tenho como missão ensinar a ver, ensinar a representar, ensinar a intervir e ensinar a trabalhar. Esta missão, que se vai desenvolvendo ao longo dos anos, integra diversos conteúdos programáticos, entre os quais o património cultural.
 
Por definição o património cultural “é o conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devem ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo.”(Wikipédia).
 
Património cultural é tudo aquilo que nos distingue dos outros e que deveremos preservar para passar às gerações futuras. Dentro do património cultural, destaca-se o património arquitectónico. 
Nos anos anteriores tentei sensibilizar os meus alunos para os problemas do mundo rural e por consequência, para a preservação da arquitectura popular. Este ano mudei de direcção e fixei-me na problemática urbana mais próxima. Nós que integramos o agrupamento de escolas da margem esquerda de Vila Real, temos no nosso território exemplos que serviram de motivo de estudo aos meus alunos. A sensibilização foi dirigida aos alunos do 9º ano, jovens de 14 anos, na sala de aula através de, visualização de fotos do meio envolvente mais próximo, registos gráficos realizados pelos alunos, leitura de textos, debate de ideias e reflexões escritas.
 
Porquê preservar?
 
A história de uma cidade também se faz através da arquitectura dos seus edifícios, pois eles são o reflexo de diversos tempos, nas suas vertentes artística, social e humana.
 
Vila Real possui vários edifícios característicos de diversas épocas, conservados ou não, alterados ou originais e que são testemunhos sólidos da vida da nossa cidade, da sua história e da sua gente. Por vezes envolvem situações problemáticas de conservação /manutenção, outras vezes constituem-se como obstáculos a esta ideia desenfreada da especulação, que os edifícios e a história tem que ser forçosamente lucrativos. Todos eles são ícones repositórios das memórias urbanas, mais ou menos adaptados à sociedade moderna, que respondem ou não às mudanças e às exigências do século XXI, mas que fazem parte da cultura desta cidade e são importantes para o desenvolvimento sustentado e para o bem estar social.
 
Por vezes cometem-se erros, alimentam-se desvios, fundamentam-se decisões polémicas... e os cidadãos o que fazem? Remetem-se ao papel de simples espectadores passivos, desconhecendo por vezes o valor patrimonial dos espaços, dos edifícios e os motivos que podem assistir a cada decisão tomada pela autarquia.
 
É necessário construir uma consciência cívica de cidadãos, informados, activos, intervenientes e capazes de influenciar decisões, de quem pode decidir e de lutar por aquilo que lhes pertence.
 
As cidades são como seres vivos, nascem, crescem, aumentam de tamanho, acompanham o tempo e as novas exigências, mas também se degradam, também adoecem e ficam moribundas. 
As cidades são feitas por semelhanças mas também pelas suas diferenças. As exigências dos seus habitantes é cada vez maior e por isso as cidades mudam, mas é conveniente que mudem para melhor, sem sacrificar a sua história e os seus símbolos, pois são estes componentes que criam a identidade dos cidadãos.
 
Talvez se levante a questão do que é efectivamente património arquitectónico. Património arquitectónico serão apenas os monumentos? Serão apenas os edifícios ou locais selecionados pelo Instituto Português do Património Arquitectónico? Serão apenas os edifícios antigos com muitos anos de existência? Entendo que a ideia de património arquitectónico é mais vasta, englobando imóveis de autor, imóveis modestos com particularidades formais ou construtivas de destaque, imóveis contemporâneos que espelham o nosso momento civilizacional, imóveis que testemunham a memória colectiva de um local…. Deve ser uma ideia sempre aberta e enriquecida gradualmente conforme as cidades e conforme os seus habitantes.
 
É necessário saber valorizar e saber porquê.
 
Reparem que muitos de nós, vivemos uma vida inteira no mesmo sítio, não estamos de passagem, assumimos uma vida sedentária, num país, numa cidade, numa comunidade, estabelecendo ligações laborais e afectivas com o espaço que nos envolve e com as pessoas, criando redes e articulações derivadas dos percursos que fazemos, quando vamos trabalhar, quando vamos às compras, quando nos vamos divertir, quando visitamos familiares e amigos e até quando permanecemos em casa olhando pela janela ou reflectindo sobre nós mesmos.
 
Nós vivemos numa cidade de características únicas que a identificam como Vila Real, diferente do Porto, de Lisboa ou de Bragança. A força da globalização, da uniformização e da normalização é enorme, e se não favorecermos uma contra corrente de opinião e de vontade sobre situações urbanas únicas da nossa identidade, essa força engolir-nos-á convertendo a nossa cidade numa urbe formatada e sem alma, onde cada um de nós será apenas mais um, contanto apenas como expressão numérica. 
É isso que queremos?
 
É necessário conservar a nossa cultura para a podermos legar aos nossos filhos, pois ela dignifica-nos a todos.
 
É necessário termos orgulho daquilo que possuímos.
 
Talvez ninguém se desloque a Vila Real para ver um centro comercial, um hipermercado, um hotel de 15 pisos, um pavilhão desportivo, mas certamente alguém virá para ver uma obra de autor e neste caso do arquitecto Nadir Afonso, um exemplo da arquitectura moderna portuguesa. É esta certeza que faz com que olhemos para o edifício da Panificadora de Vila Real com outros olhos e olhar renovado - olhos que sabem ver, sentir e relacionar.
 
A história, o autor e o desenho arquitectónico são três elementos que irão certamente validar a sua preservação e irão gerar desconforto na nossa consciência cívica ao visualizarmos o que ali está actualmente - edifício degradado, vazio de função, cheio de lixo e entulho, vandalizado, sujo, grafitado, mas que comunica pelo silêncio, e bem. Nós ignoramo-lo e ele permanece mudo e estático, presenciando as mudanças, assistindo passivamente às agressões de que é alvo, integrando a dialéctica dos tempos, esvaindo-se em marginalidade e deterioração, mas com uma dignidade ímpar daqueles que sabem o valor que têm e sabem ser resilientes. 
Quem não conhece, experimente ver o local ou visualize as fotos.


Anabela Quelhas (arqtª)
(docente de artes visuais do Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus) 
(não respeita o acordo ortográfico)
 

2 comentários:

  1. A força do sentir de alguém que sem poder, tem o poder das palavras.

    Responder
  2. Agradeço os comentários. O blogue continua em construção.

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